No passado dia 25 de novembro, todos os caminhos iam dar a São Pedro do Sul, mais propriamente ao Bioparque de Carvalhais, para mais uma edição do Pisão Extreme.
Fotografia: Eduardo Campos |
Para quem não está "dentro do assunto" o Pisão Extreme realiza-se na serra da Arada. Serra esta que segundo a organização, "tem lugares mágicos, envoltos em tradições, rituais, mitos, lendas, crenças de cabras que matam lobos, de cobras que comem Homens e de santos que carregam brasas acesas nas mãos! É a prova mais desafiante do continente europeu com percentagem média de desnível de 20%, aqui tu és levado ao limite!"
Fotografia: Eduardo Campos |
Fotografia: Pedro Lopes (Cartaz da organização) |
Confesso que a motivação extra estava mesmo aqui, porque para além da prova já ser um enorme desafio, conseguir terminá-la e manter o estatuto seria a cereja no topo do bolo.
Preparação:
Bem, posso dizer que deve ter sido a edição que melhor estava fisicamente, apesar de que em 2021, também estava muito bem (foi o ano em que fiz o meu melhor tempo), mas este ano os treinos correram-me bem, consegui integrar algumas provas no meio deles para ir testando a máquina, correu tudo na perfeição.
Fotografia: Pedro Lopes |
Um dos meus objetivos era fazer melhor tempo do que em 2021, mas com o aumento da altimetria de 6500 D + para 6800 D + esse objetivo ficou um pouco de lado, portanto virei-me para o principal, que era ser finisher pela 5ª vez.
Semana antes da prova:
Esta geralmente, é quando o nervosismo miudinho começa a apoderar-se de nós e nos faz reviver todos os momentos das edições anteriores. É a semana onde temos o trabalho árduo de mudar o chip para a prova, para aquilo que vamos ter que passar, pela dor física e psicológica, mas também onde nós conseguimos imaginar a cruzar a linha da meta e dizer: CONSEGUI CAR@#l0!
Dia a prova:
Fotografia: Pedro Lopes |
Chegámos cedo, ainda era de noite mas já havia malta no parque...
Dorsal levantado, últimos preparativos e fomos para o local da partida porque a hora da minha grande aventura estava quase a chegar. Ainda deu tempo para cumprimentar a malta amiga e com o relógio a marcar 6:30h o Joca lá dava o tiro de partida.
Fotografia: Eduardo Campos |
1ª etapa:
Para mim, de todas as etapas, esta era a mais fácil. Com o foco ainda ligado porque o dia ainda não tinha nascido, rumámos em direção ao 1º abastecimento que era na famosa casa de Gourim. Até lá chegar tínhamos que subir inicialmente por um estradão e depois de rocha em rocha tipo as cabras do monte, até às famosas eólicas perto do baloiço que existe lá com uma vista fantástica sobre uma parte da serra. Depois era só descer pelo trilho Margou até chegarmos a Gourim. Assim que atravessamos um riacho e passámos pelo meio de umas casas em ruínas, lá estava o aguardado abastecimento, na casa Margou.
Fotografia: Jose Coutinho |
2ª etapa:
Gourim rumo a Regoufe - 14,9km com 1720 D+
Ora então aqui estava uma etapa que poderia separar "os meninos dos homens" e porque? porque para mim a prova começa aqui! Assim que saímos do abastecimento entramos num trilho que nos levaria até ao cruzamento de Drave. Sempre a subir também de rocha em rocha. Este ano sem a companhia de uma pequena queda d'água, mas na edição do ano passado toda esta parte foi sempre com os pés praticamente dentro de água.
Assim que chegamos ao cruzamento andávamos uns metros no estradão e voltamos a descer. Mais uma descida vertiginosa onde os músculos começam a queixarem-se de tal inclinação. Atravessando mais um riacho... e o que é que vem depois de uma descida? Claro...uma subida! Uma subida com sensivelmente 2km`s onde a inclinação atingia os 25% . Em 2 km nós passamos de uma cota de 510 m de altitude para os 1050m de altitude!
Portanto a "coisa" era mesmo feia! A única coisa que não era feia, era a paisagem que deixávamos para trás! Espetacular! Não consigo descrever a verdadeira beleza que estava nas nossas costas. Se puderem ver o meu vídeo facilmente percebem o que estou a tentar dizer.
Ainda nesta etapa....
Fotografia: Margarida Bagão |
Fotografia: Eduardo Campos |
Fotografia: Pisão Extreme/ Spot Criativo Eventos |
Regoufe era atingido! Aqui parei para me abastecer para arrumar o equipamento que já não precisava dentro da mochila e sentar-me um pouco enquanto comia.
Fotografia: Eduardo Campos |
Pela frente, mais uma etapa dura! Assim que saímos de Regoufe levamos com a enorme subida pelo Trilho do Sol em direção a Drave e depois com a subida ou melhor a escalada assim que saímos da aldeia. Esta última mais conhecida no segmento do Strava por " Drave Extreme". Que brutalidade! E para dificultar mais as coisas essa brutalidade aplica-se às subidas e às descidas! O que vale é que depois de passar e admirar Drave ficamos meio anestesiados com a história que ali existe e com toda a mística que nos faz repensar como seria viver ali antigamente e lá vai ajudando a atenuar a dor dos músculos que dizem presente a cada passo que damos naquela escalada.
Fotografia: Eduardo Campos |
Chegado a Covas do Monte, local do abastecimento e de uma barreira horária, foi hora de fazer um balanço da prova acompanhado por duas sopinhas milagreiras e descansar mais um pouco. Eu estava dentro e muito dentro da barreira horária, por isso não estava com qualquer problema em relação a isso, mas aquela descida até Covas fez moça nas pernocas. Principalmente na perna direita, onde me apareceu uma dor na posterior da coxa que era incomodativa, mas não impeditiva de continuar.
4ª etapa:
Covas do Monte rumo a Macieira - 12km com 1490 D+
Fotografia: Eduardo Campos |
Esta etapa se for concluída dentro do tempo, tendo em conta que Macieira é a base de vida e local de possível apoio externo, ficamos com mais de metade da prova feita o que nos faz elevar novamente a motivação.
Bem, uma coisa de cada vez!
Fotografia: Eduardo Campos |
Assim que saímos de Covas do Monte, lá da escolinha que serve de local de abastecimento levamos logo por um segmento criado pela organização já noutras edições que se chama "escadas do inferno". Só o nome mete medo! Na realidade, as escadas não as vi, mas o inferno esteve mesmo à minha frente durante sensivelmente uns 40 minutos , que foi o tempo que demorei para fazer aquela monstruosidade de subida.
Fotografia: Eduardo Campos |
Subida concluída, venha de lá também a descida! O próximo destino seria a Pena. Pela frente tínhamos o trilho "o morto que matou o vivo" que também só pelo nome, ficamos logo em sentido.
O meu principal objetivo nesta parte do percurso, seria fazer a subida ao monstro ainda de dia, para tentar aproveitar o pôr do sol e toda aquela paisagem deslumbrante. Porque fazer esta subida de noite, é super difícil e perigoso para não falar que não apreciamos a paisagem em rigorosamente nada.
Fotografia: Eduardo Campos |
E assim foi, com o sol ainda a dar o ar da sua graça consegui usufruir de tudo o que tinha direito naquele local e ainda ter direito a um registo fotográfico fantástico do Eduardo Campos, que era o fotógrafo no local.
Fotografia: Eduardo Campos |
Aqui na Pena, foi quando comecei a ter a companhia de um atleta do Alverca Urban Runners, O Bruno Oliveira. Que máquina dos diabos! Acabámos depois por fazer o resto da prova juntos, tornando-se uma excelente companhia.
Pena conquistada, São Macário a ficar para trás e começamos então a descer para Macieira.
Fotografia: Eduardo Campos |
Macieira rumo ao Fujaco - 9,6km com 710D+
Bem, aqui na Macieira, trocamos alguma roupa, colocámos o frontal, abastecemos-nos e seguimos viagem. Eu já super motivado sabia que depois de fazer a subida do Fujaco, era só praticamente descer até à meta.
Assim que nos fizemos "à estrada" o frontal foi imediatamente ligado! Não se via rigorosamente nada à nossa frente.
Fotografia: Eduardo Campos (o Bruno) |
Esta parte do percurso não tinha muita dificuldade em relação a subidas, aliás para mim a dificuldade nesta parte é mesmo a descida até Fujaco. Um estradão com pedra solta com cerca de 3/4 kms que acabam por rebentar com o restinho de músculos que possam existir nas nossas coxas.
E pronto, com o relógio a marcar 13h06m de prova, chegamos finalmente ao Fujaco.
6ª etapa:
Fujaco rumo ao Bioparque (local da meta) - 11,7 km com 1010 D+
Última etapa! Que alegria! Eu estava com um bom tempo de prova. Decidimos parar e voltar a abastecer-nos aqui. Era só mesmo subir o Fujaco! Só! Digo eu! Como se fosse uma coisa fácil. Já fiz esta subida inúmeras vezes, quer em provas, quer em treinos e posso dizer que é uma subida do caraças! Com os 3 patamares a enganar quem não conhece a subida e que provavelmente quem a fez de noite não se apercebeu deles. Mas...eles estão lá! Quando se pensa que está a acabar...pimba! Subam que foi para isso que cá vieram, diz o Fujaco!
Fotografia: Eduardo Campos |
Subida do Fujaco conquistada e rumou-se então para a parte final da prova. Só que mais uma vez as descidas provocavam dores. Muitas das vezes já nem dava para correr. Ardia tudo! Mas lá se foi conquistando km`s e começamos a ter a noção que o final estava cada vez mais próximo.
E assim foi, mal atravessamos um riacho através de umas pedras, chegámos ao alcatrão e com o Joca a falar é então que as lágrimas quase que vêm aos olhos. A emoção de terminar uma prova destas é imensa. É um orgulho pessoal enorme e ainda por cima no meu caso é a 5ª vez! Sabendo eu que muitos vêm fazer a prova pela primeira vez, até a conseguem concluir, mas dizem que nunca mais a querem fazer!
Fotografia: Pedro Lopes |
E pronto, essa foi a minha prova de 2023! Muitos parabéns ao Bruno, à organização e a todos os 63 atletas de 113 inscritos que conseguiram terminar esta prova única!
Para mais tarde recordar ficam as minhas 16h09m, o meu 36º na geral, o 14º M40 e as minhas 5 medalhas de finisher do Pisão Extreme 65Km.
Fotografia: Pisao Extreme/ Spot Criativo Eventos |