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Olá, chamo-me Pedro Lopes e sou um apaixonado pelo Trail, em especial por aquelas provas mais longas que nos consomem a alma para as conseguir realizar! Espero que com este blog consiga transmitir todas as emoções que vivo durante as minhas aventuras.

domingo, 18 de julho de 2021

UTSFreita 100k - Uma paixão consolidada

Serra da Freita....és UNICA 

Fotografia: Frítz Frítz

Mesmo sentindo medo sempre que te vejo, a minha paixão por ti aumenta cada vez mais.

Nos passados dias 26 e 27 de Junho participei em mais uma grande aventura. A 15ª Edição da UTSFreita 100km com 6600D+.

Dorsal e medalha 2021


Ia ser a minha 2ª participação na prova de 100km. Em 2019 já a tinha realizado com sucesso e agora queria repetir o feito, tentando uma vez mais desfrutar de tudo o que aquela monstruosidade de serra tem para me oferecer.

Finisher 2019

A fase de preparação para esta prova tinha corrido bem, com a Clarinha sempre a apoiar-me na fase dos treinos, e a motivação e confiança estava em alta. Realmente, quando temos o apoio, compreensão e respeito de quem caminha ou corre 😁 ao nosso lado, as coisas tornam-se muito mais fáceis. Obrigado Clarinha!



Desta vez eu ia ter uma motivação extra. O meu mais que tudo ia connosco e se tudo corresse bem ia ver o Pai a cortar a meta naquela que é para mim "A PROVA" e intitulada por muitos como a Prova Rainha de Portugal.

Gui na base de vida com o Tufinha 

Este ano tínhamos alugado uma casa para pernoitar. Habitação muito acolhedora, numa pequena localidade em Alvarenga a 20 minutos de Arouca. Casa da Aldeia assim se chama.

Casa da Aldeia 

Este ano a partida era dada no Complexo Desportivo de Arouca com a chegada na mítica Escola Secundária .

6h05m era dada a minha partida.

O causador de todo o sofrimento :P  Sr. Moutinho a dar a partida
Fotografia: Frítz Frítz

Confesso que estava muito receoso e nervoso, mais do que da 1ª vez, porque eu já tinha uma noção do que me esperava. Haviam trilhos novos, como as Goelas do Mundo, que despertavam em mim uma curiosidade enorme. Mas o sofrimento estava garantido. Também tinha bem a noção que para conseguir ultrapassar essas dificuldades, teria que manter a calma, manter o meu ritmo, ouvir e respeitar os sinais do meu corpo e principalmente manter-me motivado. 

Tinha estudado bem a prova, os locais de passagem, os abastecimentos e o que comer... parecia um profissional :)

Fotografia: Frítz Frítz


O chip já tinha sido trocado, ou seja, esqueci-me dos 100kms que tinha pela frente e foquei-me nos 10 abastecimentos que eu teria de passar, dentro claro, das barreias horarias.

Relógio fora do pulso (sim, fiz a prova sem relógio) e toca a focar-me nos abastecimentos! 

Tipo, 10 abastecimentos e despacho esta prova, estão a ver? Mas olhem que funcionou. Já não é a 1ª vez que encaro assim as provas mais longas.

Bem...

Ainda na grelha de partida encontrei dois amigos, o Luis Dias e o Bruno Macedo, este ate foi meu companheiro de viagem durantes muitos e muitos kms. 

Os 1ºs 5 kms foram sempre a subir, mas este ano o Sr. Moutinho presenteou-nos com um inicio de prova diferente do que era habitual, onde iriamos conhecer as Goelas do Mundo isto ainda praticamente no "inicio" da prova. 

O que dizer sobre as Goelas? Jasussss que obra de arte. Aquelas quedas de água a formarem pequenos lagos deixam qualquer pessoa pasmada a olhar para aquilo. Só que, o que tem de beleza tem o dobro na dureza! Aquele trilho tem de ser praticamente escalado de tal inclinação. 

 Goelas do Mundo

A 1ª barreira horária era em Cabreiros (22km). Levava (sei-o agora, depois de passar o percurso para o strava) que ia com 3h20 de prova e o limite de tempo era 6h. Ou seja, ia tudo a correr bem. 

Fotografia: Paulo Nunes


A próxima barreira horaria era em Covelo de Paivô  (31km) que também seria o local do 3º abastecimento. Para mim, aqui sim, seria o verdadeiro inicio da prova. Era a partir daqui que as coisas iam "aquecer". Parecia uma partida virtual. Grandes dificuldades avistavam-se e para complicar, estava a entrar na fase de maior aperto do sol e calor. Iam ser horas e horas debaixo de um sol e calor intenso. Era agora que a parte psicológica ia entrar em ação.

Fotografia: Frítz Frítz


Ah...de referir que até este abastecimento fiz praticamente o percurso junto ao rio Paivô com uma super atleta já há muito habituada a estas andanças e que foi uma excelente companhia. Obrigado Sãozita Ferreira.

Fotografia: Bruno Batista


4h40 era o tempo que levava de prova naquele abastecimento.

Abastecido, toca viajar em direção à Aldeia da Pena. Pela frente iria ter 14,5kms com 1230D+ debaixo de muito sol. A hidratação era controlada, porque ia ter algumas horas pela frente e ficar sem agua na Serra da Freita é a morte do artista. Entretanto eu ia estando em contacto com a Clarinha que ia acompanhando a minha prova dando-me força. 

Fotografia: Bruno Batista


Assim que estes 14,5kms foram conquistados, chego à Aldeia da Pena e ao famoso restaurante Aldeia Típica da Pena. 

Restaurante Aldeia Típica da Pena

Este é um local mítico onde temos a possibilidade de comer a melhor sopa do mundo. Digo-vos...sabe tãooooooo bem aquela sopinha :) O cansaço começa a dar sinais e estar sentado naquele local fresco a comer aquela sopa, que sensação. Ali dá para repor alguma energia e dar um ligeiro descanso ás pernas, sem esquecer claro, que o tempo está a contar. 

Sopinha comida, toca a rumar até ao Portal do Inferno! 6kms com quase 600D+ 

Fotografia: Bruno Batista


Entretanto ia já no trilho dos Maias rumo ao abastecimento que existia no Portal do Inferno debaixo de um calor intenso e sem companhia. Esta foi uma parte do percurso que passei algumas horas sozinho, onde ia mantendo informada a Clarinha do meu local para que ela soubesse onde ia. Aqui cruzei-me com alguns turistas que vinham em sentido oposto e admirados da proeza destes "malucos" do trail.

Fotografia: Jorge Ramos


Bem...estava quase a chegar à base de vida. Póvoa das Leiras. 

Assim que chegasse a este abastecimento significava que já levava 63kms nas pernocas 😁 

Povoa das Leiras - Base de vida
Fotografia - Frítz Frítz

 Estava quase a começar a contagem decrescente dos abastecimentos, rumo à meta. Aqui ia entrar outra vez, numa fase da prova muito importante. A noite! E eu sabia bem, fruto da minha 1ª participação o que me esperava. Andar na serra, sozinho, com um foco na cabeça...hum! Nem sei bem o que dizer...mas a sensação apesar do medo é também fantástica. Doido, varrido da cabeça, é o que devem estar a pensar! Mas, olhem que não fogem muito da verdade :P 

Fotografia: Jorge Ramos


Estava eu a chegar a este abastecimento, quando ouço a voz do Gui e da Clarinha :) Ui....que alegria, que bom, não estava a contar, o Gui estava todo contente e ver a Clarinha e sentir o apoio dela foi fantástico, até porque tinha havido uma tentativa de me ver no abastecimento no Portal do Inferno mas como eu fui mais rápido do que esperava ela não tinha conseguido chegar a tempo. 

Fotografia: Clarinha


Depois de ter recebido os "miminhos" da família, neste abastecimento, lá me preparei para enfrentar os sensivelmente 40kms que ainda faltavam de prova. Ainda faltava passar pela Besta e pelas famosas Escadas do Martírio, sendo que a Besta ainda ia faze-las de dia, mas as Escadas já seriam pela noite dentro.

Fotografia: Paulo Nunes

Até aqui, estava tudo a correr na perfeição! Estava a sentir-me super bem, lembro-me de dizer varias vezes à Clarinha que não sabia o que tinha, parecia que tinha o "diabo no corpo" as subidas eram encaradas de uma maneira em que não pensava muito nelas, ou seja...eram para fazer e ponto! Metia o meu ritmo e lá ia eu....Onde desse para correr eu corria...não sei...não sei explicar, mas eu estava a sentir-me como nunca me senti em prova alguma. 

Fotografia: Frítz Frítz


Bem, foi a partir deste abastecimento que tive a companhia mais assídua do Bruno Macedo, vizinho aqui de Albergaria-a-Velha. Ora passava eu, ora passava ele, e lá mantínhamos nós o nosso ritmo rumo ao principal objetivo que era conquistar a Freita!

Km71, 7º abastecimento. Bondança! 

Um cafezinho, umas fatias de pizza, dois dedos de conversa, e sigaaaaa para as Escadas do Martírio rumo à Lomba que seria o local do 8º abastecimento. Mais uma vez as escadas foram feitas apenas com a luz do frontal e com o barulho da água a meter um pouco de respeito! Escuro e barulho, que combinação perfeita.

Fotografia: Jorge Ramos


Assim que cheguei ao abastecimento da Lomba, veio à memoria a minha participação de 2019. Quem leu o meu relato desse ano, sabe das dificuldades que tive e que foi neste abastecimento que estive quase quase para desistir (calma, que não desisti..se tiverem curiosidade podem ler o relato que também esta aqui no Blog). Só que desta vez, não!!!! Desta vez foi totalmente diferente. Fisicamente estava bem, psicologicamente melhor do que nunca. 

Duas minis a acompanhar uma bifana e toca a andar que já se faz tarde.

Pela frente ia ter 7,5kms com 719D+ e sono. Epá, é incrível a quantidade de vezes que corri a bocejar! Uma sensação esquisita mas engraçada!

Nesta altura já tinha a companhia da chuva! Sim, por incrível que pareça, depois de sair da Povoa das Leiras, o tempo começou a mudar. Começaram a formar-se nuvens e pouco tempo depois a chuva foi mesmo uma realidade. Quem diria que depois de um dia de tanto sol e calor, iriamos ter a companhia para os kms finais da chuva. 

Fotografia: Paulo Nunes


Quando dei por ela, chegava a Albergaria da Serra, km 86,5. Ultimo abastecimento antes de chegar a Arouca. Meu Deus, já me imaginava a cortar a meta. Já imaginava a cortar a meta e dar um abraço à Clarinha e ao Gui :) que foram incansáveis no apoio que me deram. Mais uma vez, obrigado mulher linda!

Mais uns cafés para ajudar nos kms finais, uma mensagem à família a avisar que faltavam apenas 12kms e lá rumei para Arouca mais concretamente para o Pavilhão da Escola Secundaria, onde se tudo corresse bem, teria a "famelga" à minha espera.

E assim foi....

23h44:01s depois de ter partido para esta grande aventura, recebia o abraço tão desejado da família que me esperava na meta .

Fotografia: Clarinha


Que sensação! Não consigo descrever!

Ter conseguido uma vez mais terminar esta grande aventura deixa-me super orgulhoso comigo próprio e ainda por cima fiz menos 3 horas do que em 2019! Estava ou não estava com o diabo no corpo? ahahahahaha

Obrigado Bruno pela companhia, obrigado Sr. Moutinho por mais uma vez fazer-me sofrer e mesmo assim ter vontade de voltar ...obrigado Clarinha! Obrigado mesmo! Se eu consegui e ainda por cima da maneira como consegui, é também graças a ti, ao que me dás e transmites!

Para a historia fica o meu 41º lugar na geral e masculino e 21º lugar em M40



Ate à próxima #runners...

#istoéparahomensdebarbarijaemulheresdebigode



 




 






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