No passado dia 10 de Junho foi dia de voltar mais uma vez, eu e Clarinha, à Serra da Arada – São Pedro do Sul, desta vez para uma prova Skyrace. Esta, estava inserida no Iberian Wolf Trophy by stages, organizado pelo Spot Criativo Eventos.
Fotografia: Clara Santos |
Ir para a Serra da Arada é sinonimo de sofrimento mais sofrimento e ainda mais sofrimento. E então se estiver calor, acrescento mais e muito mais sofrimento. Só que com tanto sofrimento junto, o privilegio das paisagens vai conseguindo compensar e equilibrar a balança. Aquele silencio das montanhas, aquelas paisagens de cortar a respiração aquele sentimento de sermos umas formigas ao pé de um elefante, vale cada gota de suor derramado naqueles trilhos únicos.
Serra da Arada, és FANTÁSTICA!
Bem, vamos ao que interessa…
Os dorsais tinham sido levantados no dia anterior no
Bioparque de S.P.do Sul, o meu para os 27K 2500D+ e o da Clarinha para os 14k
1100D+. Este local já era bem conhecido por mim por ter sido por duas vezes o
ponto de partida para o Pisão extreme.
Aviso já que este parque é fantástico. Possibilita para quem
o visitar, passar um dia divertido… tem sítios agradáveis para fazer um piquenique e
locais para os mais pequenos se divertirem.
Fotografia: Clara Santos |
Fotografia tirada quando já regressávamos após levantamento dos dorsais.
Dia da prova...
8.30H da manha e o Joca (Speaker de serviço) dava a partida
para mais uma aventura.
Fotografia tirada por mim assim que passei a zona de controle. Faltava entrar ainda muitos atletas. |
Os primeiros kms foram logo para meter respeito. Uma hora a subir e o relógio só
marcava 5kms percorridos e já estávamos num dos pontos mais altos da serra ou seja estava o aviso dado em relação à dureza da prova.
Estava um dia lindo, céu praticamente aberto com poucas nuvens, não havia vento e estávamos avisados do calor que iriamos sentir.
Fotografia: Frítz Frítz |
Lembro-me de ter chegado ao final desses 5 km´s já a pingar água por todo o lado.
Para mim, a grande dificuldade da prova estaria na subida do
Fujaco. É uma subida que quase não precisa de apresentações. É uma autentica barreira quase na vertical onde
passamos dos 395m de elevação para os 880m em apenas 2km´s. A inclinação é
brutal .Já a tinha feito algumas vezes e sempre que a fiz deixou-me completamente com
as pernas a tremer!
Fotografia: Micael Marques |
Só que…não! Não foi essa apenas a grande dificuldade…
Sensivelmente ao km 11, em Drave, reparo que a minha
sapatilha estava a abrir por um furo pequenino em cima e a separar-se da sola! Tchiiiiii cum c@ra%ho,
tou feito!!! Foi o meu primeiro pensamento!
Fotografia: Clara Santos |
E agora?
Fiquei sem saber bem o que fazer porque com a sola a
separar-se da sapatilha não sabia bem como iria continuar, e a cada
passo que dava ela separava-se ainda mais.
Bem! Não é para me gabar, mas…em alturas difíceis e de aperto consigo depois do choque inicial manter a calma e tentar arranjar maneira de
ultrapassar o obstáculo. E assim foi, mais uma vez.
Lembrei-me que trago sempre comigo no kit de 1ªs socorros uma ligadura.
Sentado em Drave, junto de um grupo de pessoas que andava por lá a passear e que até me deram água para encher os flasks lá consegui enrolar a ligadura na parte da sapatilha que estava a abrir e unir a sola da sapatilha.
De inicio achei que não iria segurar, mas como a sola tinha
alguns pitões, ajudou a prender a ligadura.
Foi assim que consegui continuar o meu caminho em direção à grande descida que depois nos iria levar ate à subida do Fujaco.
De referir também que ao km 15 estava um dos abastecimentos, com a malta da organização mais uma vez a ser super simpática e prestável.
Foi a partir daquele abastecimento que comecei a falar um pouco com outro
atleta, o Filipe Rodrigues da equipa SicóTrilhos, que ate aqui, ora me passava
ora passava eu mas que ali, naquele abastecimento partimos os dois para a
subida.
O Filipe ia com algumas dificuldades , mas eu também não
tinha um ritmo muito elevado e então decidimos ir os dois juntos. Aquela monstruosidade de subida levou-nos quase
uma hora e meia a fazer. Para agravar as coisas estava um calor infernal. Acho
que se colocasse um ovo cru em cima das minhas costas ele fritava! Que calor
meu Deus! O litro e meio de água que
tinha acabado de encher 1 km atrás, já
estava a acabar. A ligadura nas subidas estava sempre a sair pela parte da
frente da sapatilha. Bem…as coisas não estavam fáceis!
Várias paragens para repor a respiração normal, dar um pouco de descanso às pernas e ajeitar a ligadura e a subida do Fujaco era concluída onde ate havia água no final dela.
Acreditem…ficar sem água naquela serra…é a morte do artista.
Fotografia: Francisco Soares |
Bem, depois da grande subida as coisas iriam ficar um pouco mais fáceis porque iriamos entrar na parte final da prova onde os últimos kms eram maioritariamente a descer ou plano…
Mais uma vez…era obrigado a parar e a recolocar a ligadura
que teimava em sair…mas como já faltavam
poucos kms tinha já a certeza que iria conseguir acabar esta aventura!
E que aventura! Quase que posso dizer que dentro de uma prova destas, passa-se uma vida pela cabeça! Passa-nos tudo, questionamos tudo e
todos…as nossas atitudes, o que nos leva a inscrevermo-nos nestas aventuras…como
superar estes obstáculos, tudo em meia dúzia de horas! Mas no final não
há duvidas que estas aventuras são uma das chaves para a felicidade e
orgulho. Falo por mim! Não vivo disto mas isto dá-me vida.
Resumindo….o Filipe teve o apoio da equipa no topo do Fujaco
e eu segui o meu caminho parando ainda mais umas quantas vezes para recolocar a
ligadura.
Assim que começo a ouvir o Joca a falar, mando mensagem à
menina que me tem apoiado em tudo e que estava de parabéns por ter acabado a
prova dela e mais…por ter sido a 3ª classificada no escalão e 5ª na geral feminina (Parabéns
Clarinha)..e obrigado por tudo!
Fotografia: Clara Santos |
3,2,1….Meta cortada com um misto de sentimentos. Nem sabia se havia de chorar ou de me rir! Foi de loucos! Muitas paragens por causa da sapatilha, muito espirito de sacrifício, muita dor…muito calor…muito tudo! Mas no final o melhor dos sentimentos. Ter acabado mais um desafio. De ter aproveitado tudo o que a serra me ofereceu, e de com todo o respeito, medo e admiração que tenho pela Serra da Arada, ter conseguido vence-la, mais uma vez, porque sei, um dia, ela vai acabar por me vencer. Isso é certo!
Até uma próxima Serra da Arada e se não for antes, até ao
Pisão Extreme 65k para uma 3ª participação e se possível para uma 3ª conclusão!
Fotografia: Clara Santos |
Para a historia ficam as minhas 6h08m para concluir uma prova de 27km com 2200D+ (pelo Strava) e de ter sido o 81 atleta dos 96 que conseguiram terminar esta prova.
Já a Clarinha demorou 2h47m para concluir os 14k com 1100D+ sendo a 23º atleta a cortar a meta, 5ª feminina e a 3ª no seu escalão.
Fotografia: Clara Santos |
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